[Resenha] A Revolta de Atlas

Aproveitando que hoje, 10 de outubro de 2017, é o aniversário de 60 anos do livro “A Revolta de Atlas” (Atlas Shrugged no original) resolvi desengavetar uma resenha que estava até então incompleta.

revolta de atlas
Box do livro “Revolta de atlas”

O livro é um calhamaço de mais de 1200 páginas e portanto não considero uma leitura fácil. Felizmente ele volta e meia está em promoção no Submarino[1] (olhei agora e está praticamente R$50,00, se depois dessa resenha ficar em dúvida vale a pena esperar baixar um pouco – já vi o livro por cerca de R$25,00). Será que alguém está subsidiando o preço? Seriam os irmãos Koch? (Não vou postar links aqui pois não quero que vocês peguem câncer mas tem quem acredite que eles “patrocinam” a “direita” no Brasil.)

Pano de fundo do livro

É importanto dizer que Ayn Rand a escritora nasceu na Rússia e filha de pequenos comerciantes emigrou para os EUA ainda jovem. No entanto percebe-se facilmente nesse livro uma percepção bastante crítica da “revolução russa” por parte da autora. Além disso o livro é muito conhecido nos EUA. No próprio prefácio da obra diz que é obra de cabeceira de muitos empresários e empreendedores e seria a segunda obra mais influente daquele país ficando somente atrás da Bíblia.

Realmente a influência de Ayn Rand encontra-se espalhada pela cultura pop. Como alguns exemplos podemos encontrar referências a autora até no jogo BioShock[2]. Também foi noticiado que Ayn Rand é a leitura de cabeceira de Travis Kalanick[3], CEO do Uber. A escritora e filósofa também é citada explicitamente no álbum 2112[4] da banca de rock canadense Rush.

A história

O livro se passa em um futuro próximo onde quase todo o mundo é governado por tiranos populistas (qualquer semelhança com a Venezuela não é mera coinciência) mas trama em si se passa quase que totalmente nos EUA, a única nação onde ainda existe algum resquício de democracia e capitalismo no mundo do livro. A partir daí a premissa básica do livro começa a ser desenvolvida: E se as maiores mentes e líderes (empreendedores, cientistas, artistas e demais profissionais de destaque) do mundo começassem a desaparecer um por um? No livro isso leva a uma situação cada vez mais caótica, já que as pessoas que restam são somente burocratas que mal sabem botar a “mão na massa”.

Aspectos negativos

Conforme eu disse antes o livro é um calhamaço. Infelizmente em alguns momentos a história parece que não avança muito ou o faz lentamente, então me parece que seria possível resumir o livro sem perder muito para 1/3 do volume do mesmo.
Outra coisa que me incomodou foram os vilões, ou antagonistas: todo mundo parece incrivelmente burro e incapaz de ver onde vão dar as consequências dos seus atos. Fico na dúvida se essa retratação dos burocratas e inimigos foi proposital ou involuntária.
Por último entre os lados negativos eu citaria que o livro tem uma ou outra cena mais picante (nada que não apareça na novela da Globo hoje em dia), mas eu não entendi muito bem o que a autora queria com essas cenas, já que para mim elas não acrescentam muito na trama.

Aspectos positivos

É uma obra profundamente inspiradora, especialmente para quem se interessa por empreendedorismo e inovação. O livro tem quatro pontos altos, que são quatro discursos dados por quatro personagens diferentes. Nesses discursos é possível vislumbrar e admirar o sistema filosófico da autora que é muito interessante e consistente.

A premissa é absurdamente incrível e até me espanto que não tenha sido copiada em outras obras: o que acontece quando as pessoas que movem o mundo entram em greve?

Veredito

Até mesmo por se tratar de um livro longo e denso levei praticamente um ano lendo “A Revolta de Atlas”. Ao menos pra mim a leitura dessa obra foi uma experiência transformadora. Não li outras obras da autora mas esse livro me fez repensar muitas coisas da minha vida.

Da mesma maneira muitas pessoas que eu conheço se sentem de maneira semelhante à essa obra. É verdade que também a obra tem muitos detratores (se viram refletidos nos antagonistas talvez?) mas poucos ficam indiferentes a mesma.

Nenhuma outra obra que eu conheço retrata tão bem o aspecto heróico e mítico do empreendedor. Penso que essa obra pode e deve ser lida especialmente por quem empreende até mesmo para entender melhor o seu papel no mundo e redobrar a força para enfrentar seus desafios diários.

Recomendo a leitura, especialmente aos empreendedores, no sentido mais amplo da palavra. A todos os Atlas que carregam o mundo nas costas e muitas vezes nem se questionam sobre isso. É hora de se rebelar também?

Links da postagem:

[1] http://www.submarino.com.br/produto/7297920/livro-box-a-revolta-de-atlas-3-volumes-

[2] https://en.wikipedia.org/wiki/BioShock

[3] http://www.businessinsider.com/how-uber-ceo-travis-kalanick-was-inspired-by-ayn-rand-2015-4

[4] http://www.rush.com/2112-spotlight-on-ayn-rand/

Ou você morre como herói ou …

batman
Batman no filme “O cavaleiro das trevas”. Créditos da imagem: IMDB.

No filme Batman, o cavaleiro das trevas (Warner Bros), em certo momento do filme, o promotor Harvey Dent diz uma frase muito interessante: “Ou você morre como herói ou vive o tempo bastante para virar vilão”. Lembro-me dessa frase a cada momento que eu vejo pessoas dizendo que se decepcionaram com algum projeto político.

Não sou psicólogo, mas me parece que de alguma maneira essa frase representa uma negação da política muito comum. As pessoas que se interessam por política precisam criar uma desculpa para si mesmas para não participar pois não tem em suas mentes uma clareza de objetivos. Com isso observam projetos com as quais mais se alinham atentamente a procura de defeitos. Até que em determinado momento o projeto ou pessoa com a qual elas concordavam até então, tropeça, faz ou fala algo com que elas não concordam. Pronto. É a desculpa que faltava para alguns apontarem e dizerem: “Viu? Eu avisei que isso não tinha como dar certo”.

Pronto, está formada na mente da pessoa a desculpa perfeita para que ela não precise fazer nada. Perdeu-se mais uma pessoa bem intencionada. E o mundo segue. Se isso se repete muitas vezes (e eu mesmo já vi isso acontecer um bom número de vezes) quem são as pessoas que ficam? Ficam as pessoas mal intencionadas que querem o poder (e não ligam para erros) ou uns poucos que tentam remar contra a maré de maus projetos e maus políticos mesmo sabendo que nem sempre vai existir uma concordância em tudo. Com a desistência de alguns, os mal intencionados vencem por número.

Não quero com isso afirmar que uma vez adentrando de um projeto não existe porta de saída. Claro que existe e cabe a cada um decidir qual é o limite de coisas erradas, ou tropeços que pode suportar. Defendo porém que saibamos avaliar e diferenciar os pequenos deslizes dos erros de valores ou essência. Para dar um exemplo absurdo é como se algumas pessoas dissessem “a cor do meu partido é o azul e eu gosto de verde: vou sair, assim não dá”. Claro que é apenas um exemplo mas na minha percepção acontece sim das pessoas abandonarem projetos por detalhes bobos.

Esqueci quem foi o autor, mas certa vez ouvi uma frase muito interessante: “Ele quer mudar um país mas não consegue nem mudar um partido.” Então fica o meu convite à reflexão, que possamos ser mais tolerantes com as coisas pequenas e que possamos melhorar o Brasil, um partido por vez, em pequenos e lentos passos, pois é assim que as mudanças são feitas.

De modelo à toda Terra

Pois é, chegou mais um 20 de setembro. Se por um lado nunca fui tão ligado as tradições a ponto de andar pilchado, por outro lado, com os anos fui adquirindo mais carinho e respeito por essa nossa terra que convencionamos chamar de Rio Grande do Sul. Paralelamente tenho observado crescer um revisionismo que parece que quer destruir o símbolo e os valores do gaúcho. Quem ganha com isso? E o que perdemos com isso?

Antes de mais nada é preciso fazer uma mea culpa por questão de honestidade intectual. Nossos heróis farroupilhas não eram perfeitos. Tinham escravos. As mulheres não participavam da política. Mas isso não seria julgar nossos antepassados com os olhares de hoje? Atire a primeira pedra quem não possuir em suas veias nenhuma gota de sangue de escravizadores.

Quem ganha em destruir um modelo moral do gaúcho? Infelizmente são os mesmos que querem negar todos os valores obtidos na cultura ocidental. São muito rápidos em julgar com severidade os heróis do passado mas são lentos em julgar os próprios heróis. Se Bento Gonçalves tinha escravos e para os dias de hoje isso é inadimissível, o que dizer de Maduro e os venezuelanos. Quem acompanha a situação da Venezuela sabe que o povo mal tem o que comer. Crianças morrem nos hospitais e quem expressa sua revolta é forçado a se calar ou ir para a cadeia. Mas isso eles não falam. Jogam suas pedras somente contra as nossas tradições a ponto do povo acreditar que nunca teve heróis. Que nunca fomos nada. Que não merecemos nada no futuro.

E aí faço um convite a encarrar o gaúcho, como um símbolo muito mais do futuro que podemos alcançar do que um passado que, realmente, nunca foi nosso.

 

PORTO ALEGRE-RS, BRASIL, 25.01.12: Estátua do Laçador. Foto Eduardo Seidl/Palácio Piratini

A coragem e força, tão bem representadas na lida do campo, a hospitalidade explícita em uma roda de chimarrão e a inteligência e lucidez, registradas para sempre, por exemplo na obra de Simões Lopes Neto. Que esses valores, sejam mais do que um ponto para onde não podemos retornar mas sim uma luz, como a de uma estrela, que nos aponta para onde ir. Tanto para os gaúchos que aqui nasceram, quanto para os que adotaram o Rio Grande de coração. Que possamos ter façanhas no nosso futuro e que elas sirvam de modelo a toda Terra.

PS: Vai dizer que não parece que a estátua do Laçador, bela obra da arte do pelotense Antônio Caringi, não parece que olha mais pro futuro do que para o passado?